(Texto Hebraico de Josué 1.1)

domingo, 19 de dezembro de 2010

Emanuel



por Carlos Augusto Vailatti

            Deus, ao longo da história da humanidade (de forma mais ampla) e ao longo da história bíblica (de forma mais específica) sempre buscou se aproximar do ser humano.
    Ao contrário do pensamento deísta de Richard Elliott Friedman, que em seu livro O Desaparecimento de Deus (Imago, 1997) argumenta que Deus vai, aos poucos, se afastando do homem ao longo do Antigo Testamento, devo dizer que penso exatamente o contrário. Deus sempre buscou se aproximar do homem, e não se afastar dele, como Friedman acredita.
    No Antigo Testamento, já no Jardim do Éden, assim que Adão e Eva desobedecem a Deus comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, a primeira atitude que Deus toma é se aproximar do casal (Gn 3.9-21). Deus não os abandona, mas está com eles.
    Alguns capítulos mais adiante, ainda no livro de Gênesis, José é levado ao Egito e é vendido como escravo a Potifar, eunuco de Faraó, e, posteriormente, é preso, acusado injustamente de ter cometido adultério. Porém, a Bíblia diz quatro vezes que “o Senhor estava com José” (Gn 39.2,3,21,23).
     Em Êxodo 33.14 Deus diz a Moisés: “Irá a minha presença contigo para te fazer descansar”.
     Em Juízes 6.12, o anjo do Senhor saúda a Gideão, dizendo-lhe: “O Senhor é contigo, homem de valor”.
     No Salmo 23.4, o salmista declara: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo”.
     No Salmo 118.7, o salmista ousa dizer intrepidamente: “O Senhor está comigo entre aqueles que me ajudam”.
     No Salmo 119.151, o salmista diz convictamente: “Tu estás perto, ó Senhor”.
     Já em Isaías 7.14, uma extraordinária profecia que aponta para a vinda do futuro messias, Jesus, irá empregar um termo bastante curioso para descrevê-lo. Trata-se da palavra hebraica “'Immanu’el”. Tal palavra é emblemática, pois ela resume magistralmente a relação que Deus deseja ter com os seres humanos. O vocábulo hebraico “Immanu’el” é o resultado da aglutinação de três palavras hebraicas:

   1) A preposição ‘im – “com, na companhia de; junto, ao lado de”

  2) O pronome pessoal da primeira pessoa do plural ’anu (forma       contraída de ’anahnu) – “nós”

  3)  O substantivo masculino ’el – “Deus”.

    Dessa forma, ‘im (com) +’anu (nós) +’el (Deus) = literalmente: “com nós Deus”, ou “Deus com nós ”, ou ainda, para ser mais preciso, “Deus conosco”.

    Já no Novo Testamento, Deus resolve se aproximar da humanidade ainda mais, e, desta vez, tal intento é levado a efeito através do nascimento de Seu Filho, Jesus, que também é chamado de Emanuel, cujo significado, conforme já vimos, é "Deus conosco" (Mt 1.23). Assim, Deus passa a viver entre os homens de forma corporificada.
    Em Mateus 18.20 Jesus diz que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.
    Além disso, um pouco mais adiante, mais precisamente em Mateus 28.20, Jesus ainda declara: “eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
    Por fim, como se esta aproximação já não fosse o bastante, Deus resolve se aproximar ainda mais dos Seus filhos e filhas. E como ele faz isso? Ora, Jesus promete que irá enviar o Consolador para que fique conosco para sempre (João 14.16). Então, assim que é glorificado, Jesus envia o Espírito Santo.


    Enquanto Jesus viveu conosco na terra, ele experimentou limitações físicas, de modo que não podia estar em dois lugares distintos ao mesmo tempo. Jesus não podia estar, por exemplo, em Jerusalém e em Roma simultaneamente. Porém, após a Sua glorificação, Ele é onipresente por meio do Espírito Santo. Ora, haveria algum outro modo de Deus estar mais próximo dos Seus filhos e filhas do que através do ato de "morar neles"? (1 Co 6.19; Ef 2.20-22).